fotos cedidas pelos entrevistados
Que o futebol é uma paixão nacional não é nenhuma novidade, mas quando será que isso começou? Será que o vôlei poderá algum dia chegar a esse patamar?
O futebol no Brasil começou como algo apenas praticado pela elite. Diz-se que a primeira bola de futebol do Brasil foi trazida em 1894 pelo paulista Charles Miller. Cinquenta e seis anos depois, durante os governos de Vargas, principalmente, foi feito um grande esforço para alavancar o futebol no país. A construção do Maracanã e a Copa do Mundo do Brasil (1950), por exemplo, foram na Era Vargas. Em 1952, quando a população ainda lamentava a perda da Copa do Mundo de 1950, o Fluminense Football Club elevou a autoestima do povo carioca conquistando no grande estádio a Copa Rio Internacional, embrião da Copa do Mundo de Clubes da FIFA. A vitória no Mundial de 1958 pela seleção, com um time comandado pelos negros Didi e Pelé, pelo mulato Garrincha e pelo capitão paulista Bellini, ratificou o futebol como principal elemento da identificação nacional, já que reúne pessoas de todas as cores, condições sociais, credos e diferentes regiões do país.
Não tem para onde fugir, a criança já nasce dentro do futebol. Quantas vezes já se viu uma criança sair da maternidade usando uma camisa de time? Inúmeras vezes. Por que com o vôlei não dá para ser a mesma coisa? Simplesmente por que não tem o mesmo investimento que o futebol.
Mas será que as pessoas assistem mais futebol por gostar ou por que é uma cultura do brasileiro?
Para Arthur Lunelli Mella (atleta do Al-Ahl - Doha-Qatar), “é uma cultura de todo brasileiro, uma paixão mesmo, então é difícil mudar isso”. Leonardo Mendes (Engenheiro Agrícola e jogador de vôlei nas horas vagas) acha que “o futebol já faz parte da cultura brasileira, é muito mais fácil você ver um pai ou a própria criança querendo ser jogador de futebol do que jogador de vôlei, desse modo é mais cultura que gosto”. Para Marcos Paulo (Analista de Sistemas e jogador de vôlei não profissional), é “um pouco dos dois. A gente nasce tendo que aprender a gostar de uma bandeira, né? Por mais que eu não goste, é um esporte simples, bastante divertido e pode ser jogado em qualquer lugar com qualquer bola, por qualquer pessoa”.
O que não dá para deixar de reparar é que todas as quartas e domingos há uma mobilização para assistir o jogo de futebol. Quando não estão em casa vendo com a família, estão vendo com os amigos em um bar. E o mais engraçado é que todo mundo entende muito de futebol e isso fica claro quando o jogo começa, pois todos dão palpites e ficam irritados quando acham, por exemplo, que o juiz é ladrão.
Em contraposição, o vôlei nunca teve o mesmo espaço. Para começar não se tem registro de quando o vôlei chegou às terras brasileiras. O que se sabe é que, em 1954, a Confederação Brasileira de Voleibol foi criada com o objetivo de difundir e desenvolver o esporte no país. Além disso, nos jogos quando o comentarista diz que o jogador tal fez um bloqueio ou uma manchete, muitas pessoas nem sabem do que o comentarista está falando.
Mas por que isso tudo foi apresentado? Muito simples. A questão começou a ser questionada após as Olímpiadas de Londres, pois as inúmeras conquistas das seleções de vôlei nos últimos anos, aliadas aos recentes fracassos das seleções de futebol, geraram uma discussão nas redes sociais: o Brasil, agora, passou a ser o país do vôlei, e não mais das bolas nos pés? Na opinião de Sheilla, bicampeã dos Jogos (Pequim-2008 e Londres-2012), este ainda é um “sonho” distante de acontecer. Ao oposto, contratada pelo Sollys/Nestlé para essa temporada da Superliga, vê o futebol como "paixão" do povo brasileiro, e, por isso, ainda acha difícil a comparação. "O dia que chegar perto, já vai ser bom para a gente", afirmou a jogadora.
Adriano Freitas Técnico de vôlei concorda com Sheilla, pois para ele o “Brasil é o país do futebol e sempre será”. Marcos Paulo discorda parcialmente da declaração do oposto “dizendo que apesar de o vôlei estar a cada dia ganhando mais espaço, o futebol sempre foi a paixão nacional”.
Já Arthur Lunelli Mella, que agora está jogando no Al-Ahli (Doha-Qatar), o vôlei, a cada geração que passa, aumenta sua fama e sua visibilidade em todo país, mas será muito difícil superar o futebol nesse quesito. Mas, apesar disso, o vôlei já se tornou uma das grandes paixões nacionais, e pra isso continuar acontecendo, precisa continuar com o investimento na divulgação dos campeonatos que acontecem no país e continuar com o trabalho executado em todos os estados desde a categoria de base.
Um ponto positivo que não dá para negar é que as pessoas estão assistindo cada vez mais o vôlei na televisão e nos ginásios. Na televisão aberta, o que passa, geralmente, são jogos da seleção masculina/feminina. As pessoas que podem pagar conseguem assistir as competições em canais como Sport TV e Esporte Interativo (internet), que transmitem praticamente todos os jogos. Desse modo fica um pouco mais fácil saber o que está acontecendo nas competições. Arthur tem notado que houve um aumento significativo de audiência nas emissoras e nos ginásios do país todo. “Nos jogos os ginásios estão sempre lotados”.
Para Marcos Paulo, “as pessoas estão assistindo com certeza mais o vôlei. Sem dúvida, é um grande esporte com grandes atletas. Acho que os resultados positivos da seleção contribuem bastante para isso”. Para Leonardo Mendes, “depois da medalha Olímpica, o vôlei ficou mais intimo do “brasileiro”, mas acho difícil tomar as proporções do futebol, embora o brasileiro torça muito por qualquer esporte, né”.
Se o vôlei fosse tão amado quanto o futebol, Arthur afirma “a realidade do atleta seria um pouco diferente, a fama seria maior e teríamos oportunidade pra poder atuar no Brasil sem se preocupar muito com a situação financeira”.
Vários jogadores de futebol vão jogar em times de fora do país. Os jogadores de futebol ganham mais fama e quando voltam para o Brasil são assediados por vários times. O mesmo não acontece com os jogadores de vôlei, Arthur Lunelli Mella já jogou em times como Sada Cruzeiro e Sesi –Sp e agora está indo para Al-Ahli do Catar. Para ele “jogar fora do país faz com que o atleta brasileiro perca um pouco de visibilidade para o voleibol nacional”. Mas diz também que “voltando para o vôlei nacional após ter jogado alguma temporada fora do Brasil tem suas vantagens, pois o jogador acaba se tornando mais respeitado por ter adquirido experiência internacional”.
O que pode ser feito para aumentar a visibilidade do vôlei no Brasil?
Para Leonardo Mendes, não há muito o que fazer. No máximo incentivar a escolinhas. Por que, por mais que se promova o esporte, o público que decide se assiste ou não. Como por exemplo, antigamente o remo atraía a atenção de milhares de espectadores, hoje em dia é o futebol, amanhã pode ser o vôlei, quem sabe?
O vôlei só tem de ter o mesmo incentivo que o futebol tem. Por que futebol já está no sangue dos brasileiros, nenhum esporte vai tirar o seu lugar. O vôlei está chegando perto disso, ele já é o segundo esporte mais praticado no País com 15,3 milhões, perdendo apenas para o queridinho. Agora é só torná-lo visto com mais frequência nas grandes emissoras abertas. Com isso, toda a população terá chance de acompanhar os jogos, por conseguinte, sua popularidade irá aumentar.

Nenhum comentário:
Postar um comentário